quarta-feira, 27 de outubro de 2010


O homem pálido senta-se outra vez em sua cadeira, na sua mesa a tela de neon como um ídolo a ser adorado. As luzes da caixa mágica se acendem e dão inicio a mais um dia de teste de paciência e nervos. Não vê amor nem vida, somente existe a luz bruxuleante daquele mundo artificial que se estende perante seus olhos. O carrasco cospe suas ordens aos quatro cantos, exigindo cada segundo do seu intelecto. No fim de tarde ele respira aliviado, tentando se desgarrar dos efeitos da tortura psicologia, da sensação de se sentir uma maquina orgânica, de ser produtivo a cada instante e não parar para sorrir ou sonhar, esconder a vergonha de saber que está vendendo sua vida, suas horas de oxigênio...

Segue cada dia do seu clico vicioso, caminha à noite pelo cinza da cidade enquanto milhões de buzinas embaralham seus pensamentos e os prédios escondem as estrelas. Mais e mais vai perdendo a humanidade, ficando mais calado e se trancando num mundo de fones de ouvido.
Apesar de tudo ainda tem sonhos, mesmo que escondido de seu desanimo e em alguma esquina quem sabe encontre um olhar e o olhar vire um sorriso e junte esse sorriso ao seu e os leve até o infinito da redenção.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Esperança Encardida 3 (Diamantina Road Blues)


A estrada pode te absorver, ela é um pote gigante de surpresas de olhos se cruzando no espaço de corações estraçalhados no asfalto.
Sou um "eu" diferente, não o mesmo que começou pelo caminho.
Toda a juventude está ficando empoeirada como o chão que rasgo agora. Todos os sentimentos revirados e soltos dentro de mim.
Os velhos dragões voltaram e ser moinhos e já não assustam mais, o meu rosto escancarado ao vento mostra uma nova fase.
Não! Não me sinto mais velho, nem mais sábio ou inteligente a idade parece não surtir tantos efeitos quanto os esperados assim como os anos não te curam completamente. Os anos somente enterram as coisas, e às vezes elas voltam, mas não hoje! Hoje é dia de estrada e sol, porque só assim posso alimentar meu espírito inquieto buscando sempre nos quilômetros a cura de uma doença sem fim que pode ter vários nomes como solidão ou tédio.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Viagem Insólita

Acordei no ônibus e um breve momento no tempo, aquele segundo antes de abrir os olhos tive duvidas de onde eu estava. Coisa comum de acontecer. Muitos se sentem perdidos, sem saber se estão na cama ou sabe-se lá onde. Mas dessa vez foi diferente porque eu não sabia em que lugar do tempo eu estava.

Minha mente foi jogada numa espécie de fenda no espaço e naquele instante imaginei estar deitado numa cama de colchão mole que era feito com recheio de palha de bananeira e esperei ali que os dedos enrugados de minha avó iriam me tocar e sua voz suave de velhinha me chamaria para o café com biscoito que ela mesma fez.
Balancei a cabeça ao lembrar que aquela senhora já tinha partido há muito tempo, ainda nos anos 90 e soube que não teria um dia tramquilo na roça catando manga no pé e brincando com os primos.

Quem sabe então hoje não seja uma manhã de domingo em 89, quando me levantava apressado pra não ficar pra trás e meu pai ir jogar bola sozinho, claro que aos cinco anos eu não jogava e na verdade não joguei nos outros 20 anos depois, mas gostava de agir como uma sombra dele e me sentia útil em guia-lo para casa depois da sua bebedeira.
Mas não era 89 então quando seria? Talvez o despertar dos meus próprios dias etílicos aqueles em que a memória falha e de maneira providencial, escondendo assim as frases que você não deveria ter dito na noite anterior, a sensação de tempo desperdiçado por não ter tentando beijar aquela tal garota, culpa da sua eventual timidez.

Hum melhor ainda! Hoje pode ser uma daquelas manhãs onde acordava na casa de uma antiga namorada com aquele sorriso sem vergonha de quem sabe que está quebrando as regras e não deveria estar ali, e que se alguém te descobrir você estará realmente encrencado.
Sim realmente o tempo se despedaçou e resolveu brincar com minha existência, é tão estranho quando perdemos a referencia na vida, igual há vez em que um grande amigo morreu afogado e fez com que todos da turma percebessem que um dia tudo se vai, cada minuto é precioso e agora estou aqui a talvez possa escolher em que dia vou acordar. Mas não pude escolher nenhum deles porque o segundo de viagem insólita acabou e nem mesmo era manhã, mas sim à hora do rush em belo horizonte com suas centenas de pessoas em carros loucas para voltar logo há suas vidas. Ascenderia um cigarro se eu ainda fumasse, mas depois de três anos assim como todo o resto esse vicio ficou no passado.

(Musica tema: Watermelon in Easter Hay de Frank Zappa, essa musica sempre me faz viajar)